Pássaro ferido

O poeta magoado não luta não vive o dia
não tece seus sonhos, vai em desfilada
contra o tempo percorrido contra a corrente
natural das coisas importantes que não param
nem podem parar por razões algumas.
Vai contra si mesmo quando se desama
e faz disso pretexto de existência.

O poeta magoado sofre a cada instante
como uma necessidade e não como um castigo,
até que suas chagas sangrentas se revelem
a horas de sarar por si, qual pássaro ferido
voando sem destino
à procura de uma réstia de Sol
promessa mais que redentora
breve tão mais quanto possível
mas desde logo esperança renovada.

Um poeta, mesmo magoado, não chora,
deixa antes que seu canto triste
seu lamento mais profundo e doloroso
tomem conta de sua alma sonhadora.
E quem vir por essas ruas fora
uns olhos mortiços e distantes,
carregados de uma secular resignação,
pode estar certo de que pertencem
a um poeta magoado.

Sem comentários:

Enviar um comentário